Semeadores de livros


João Baptista Herkenhoff
Em 14 de março comemoramos o Dia do Vendedor de Livros.
A propósito desse profissional, Monteiro Lobato escreveu: “Suprima-se o livreiro e estará morto o livro.”
Ainda Lobato, exaltando o livreiro, doutrinou para a posteridade:
”Embora sua mercadoria seja a base da civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem a nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido. O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome. O batom diz à mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos. Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama.”


A meu ver, os três maiores semeadores de livros são os livreiros, os bibliotecários e os professores.
Os três trabalham em comunhão e faltando qualquer deles o livro naufraga. Se o professor indica aos alunos livros que vale a pena ler, mas se não há livreiros para vendê-los ou bibliotecários para colocá-los nas mãos dos leitores, o conselho do professor torna-se inútil. Se uma cidade tem livrarias e bibliotecas mas não tem professores que impulsionem o gosto de ler, ficarão vazias tanto as bibliotecas, quanto as livrarias.
Castro Alves exaltou em versos imortais todos os semeadores de livros:
“Oh! Bendito quem semeia livros, 
Livros à mão cheia, 
E manda o povo pensar! 
O livro caindo n’alma, 
É germe que faz palma, 
É chuva que faz o mar!”.
Confessando sua paixão juvenil pelo livro, poetou Clarice Lispector:
“Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.  Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.”
Homenageio todos os livreiros do Espírito Santo e do Brasil relembrando o grande livreiro que foi Nestor Cinelli.
Cinelli não foi um comerciante de livros. Cinelli foi, na verdade, um apóstolo do livro.
Muitos estudantes compraram livros fiado na Livraria Âncora e só saldaram suas contas depois que se tinham tornado profissionais. Advogados, membros do Ministério Público, juízes, médicos, dentistas podem dar este testemunho. Nem juros Nestor cobrava. Devia ser pago o que estava anotado na sua caderneta (eu diria santa caderneta) e a conta estava liquidada. Promissória? Esta palavra não existia no vocabulário desse livreiro ínvulgar.
A exaltação dos bibliotecários e professores fica para um artigo futuro.
João Baptista Herkenhoff é professor da Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo e escritor. E-mail: jbherkenhoff@uol.com.brHomepage: www.jbherkenhoff.uol.com.br Autor de Curso de Direitos Humanos (Editora Santuário, Aparecida, SP, 2011).

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